Os Yidhas

Capítulo 21

Como já era de se esperar, à medida que o céu ficava mais repleto de estrelas significava que, em alguns milhares de anos, o centro da galáxia Andrômeda cruzaria com a Via Láctea. O que aconteceria ninguém poderia prever diante aquela turbulência titânica de gases, poeira cósmica, nuvens fotônicas, esporos e bactérias. Assim como em tempos remotos, a própria Via Láctea havia simplesmente deglutido a Pequena Nuvem de Magalhães, num canibalismo cósmico sem precedente, e ainda podiam se rastrear os restos do que fora a pequena galáxia, pelo fiapo do brilho das estrelas, como o rabo de rato que sobrara da boca do gato e, era calmamente consumido. E agora, a mediana Via Láctea sentia na “pele” o próprio veneno. Uma galáxia menor fora tão insignificante, que até passara despercebida às mudanças climáticas ou influências cósmicas que porventura afetaram os planetas próximos. Diferentemente da grande Andrômeda que, mesmo ainda a distância, já exercia forte atração.

Tudo aquilo continuava uma incógnita, depois de centenas de milhares de anos. O que fizera uma galáxia situada a 2,2 milhões de anos-luz, voar – no bom sentido – sobre a Via Láctea? Um enigma para a ciência.

Em todo esse tempo descobrir que, estranhamente, a velocidade das galáxias aumentara em direção ao superaglomerado de Hidra-Centauro a 90 milhões de anos-luz de distância. Enquanto a Terra avançava a 2,5 milhões de quilômetros por hora rumo à Constelação de Hidra, a galáxia Andrômeda desembestava numa corrida célere com mais de 5,9 milhões de quilômetros por hora rumo à mesma constelação. Essa atração muito forte e descontrolada ocasionaria de alguma forma, mais adiante, o início do caos cósmico.

Em alguma parte do Universo, bilhões e bilhões de estrelas haveriam de se chocar numa magnífica explosão. Revelando um novo princípio divino! A influência já se fazia perceber em toda aquela situação caótica.

Os sensores espectrográficos das sondas e naves que se encontravam no espaço exterior detectavam uma luz azulada se deslocando em direção a Terra, entrando no sistema solar. Cientistas alertavam que as alterações no campo gravitacional do planeta eram quase imperceptíveis e verificaram que tais alterações, tão sutis, só poderiam ser causadas pela interferência de um astro invisível. O comunicado seguinte foi à descoberta da presença de um planeta 800 vezes maior do que o Sol, orbitando em torno de uma estrela nas proximidades. Especulavam a respeito da existência real desses astros, que flutuavam no plasma negativo.Na Via Láctea existiam centenas de milhares, onde as leis convencionais da física e da química terrestre simplesmente não possuíam o menor valor. Não funcionavam. A sua aproximação mais perigosa deveria ocorrer somente num futuro muito distante, e os problemas existentes na Terra eram muitos mais urgentes e o tempo bastante escasso.

Mas um dia, uma luz esbranquiçada e irradiante foi surgindo justamente entre os dois blocos de terra, em seguida, uma espécie de halo esverdeado pulsante se elevou e a cada impulso que dava, liberava atrás de si mesmo, numa explosão de luz espetacular, dezenas de outros círculos furta-cores, que se perdiam no infinito.

Eram imagens estranhamente bonitas, que deixava a todos abismados e com os olhares fitos, hipnóticos naquelas evoluções cuja claridade chegava a doer os olhos.

“I-märsý-lly för arch-ll yanng plÿ-y I-pýu-tur-tammi ascällon ni-pûur I ta-m gl-gôsh A et-ta Bhoôr mäy sh-utr orëxs te-ll-Ång Ush-t-rãwnvoik B-länf-üry Bòr T-hangh mashss lly-Antö-rg prohw-e
Âshÿ mall-y mor-trëen-ll –lÝyr mar…
 iI dliâam-ky cèa-t-al vorxš yÿ där-llnŸ
 I-pýu-tur mä-y orxcx v-lland-lëll
T´rëlly-ghäuürš… Âshÿ mall-ý Ëghÿý HýnnåÐ’ëllê”

Aquele som orgânico, quase num sussurro, nascia dentro da mente dos Térqueos e Humnos que não entendiam o significado daquelas palavras ditas na mais pura e suave harmonia, contudo, havia uma compreensão infinita em cada frase, em cada entonação que os fazia absorver o sentido profundo daquela melodia que reverberava em seus íntimos. E milhões de sininhos soavam pelo espaço enquanto as cores, num cromatismo intenso mutavam e se convertiam e transformavam o prisma do cristalino ótico em imagens e figuras que se moviam ágeis e flutuantes. De repente eles podiam perceber com clareza a origem daquilo tudo, e mantinham-se ainda maravilhados e extasiados.

A existência dos Yidhas passaria desapercebida ainda durante muito tempo e principalmente a da entidade Ëghÿý HýnnåÐ’ëllê. Não que não despertasse curiosidade, mas foi como se a mente dos Térqueos e Humnos tivesse sido entorpecida ou dopada e o conhecimento sobre os Yidhas fosse tomado de uma lentidão impressionante, angustiante.

Aquela absorção carregada de assombrosa letargia foi considerada de importância crucial pelos visitantes ao planeta e para a compreensão do povo à sua presença, pois somente assim poderiam tomar conhecimento e saber como usar a tecnologia que traziam para eles, caso contrário seria muito desastroso para todos. Inclusive os Yidhas sairiam prejudicados pela falta de entrosamento na comunicação, item considerado muito importante entre eles. Já haviam percebido que a raça terrestre estava obcecada pela vida e notavam que também tinha perdido a identidade antropomórfica característica da espécie.

O tempo cruel e a natureza sarcástica os fizeram esquecer qual o sentido de suas vidas na Terra. Os nomes não mais tinham importância, os indivíduos se tornaram insignificantes dentro do elemento social, se transformando apenas em componentes de uma estrutura massificada radical e nociva aos extremos. Eram apenas Térqueos e Humnos, como se aquela conjuntura condicionada e viciada pelo rito da sobrevivência significasse muito ou alguma coisa. Todo o conhecimento tecnológico que possuíam sobrepunha à organização moral e religiosa.

Uma, não podia ser considerada uma raça tecnológica, pois toda a técnica assumida até então vinha de datas passadas, assim como todos os equipamentos pertenciam a diferentes épocas e a períodos incertos da civilização. Entulhos acumulados! Seria o termo exato para exemplificar toda aquela parafernália. Tecnologia? Não! Restos e quinquilharias herdadas como recompensa pela persistência da vida. A outra, não podia ser considerada uma raça religiosa, pois perdera o liame da pureza do pensamento com o criador e, estigmatizada, sofria com o pungir do pecado na própria carne.

Por isso que os Yidhas precisaram do tempo/espaço terrestre para se fazerem compreender e entender. K’halobür-r era um planeta orgânico, sutil e sua essência era melhor interpretada quando os nativos de outros mundos acreditavam na sua existência. A sintonia neuro-eletrônica era muito importante e, naquele ambiente conturbado, o mais perfeito era ir deixando cada momento acontecer, fluir de acordo com a organização tempo/espacial do planeta. A interferência viria com absorsiva osmose sintética através dos sons e componentes de luz. Térqueos e Humnos precisavam aceitá-los primeiramente como eram sem julgamentos ou questionamentos impuros. Libertar seus sentimentos e emoções belicosas e se abrir às transformações essenciais do “nous”, ou seja, a pureza elementar do conhecimento interior.

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